Andávamos pelo ano de 1996, no fim do mês de agosto, fui colocada na Ilha da Madeira, na localidade do Seixal.
Nunca tinha estado nessa ilha, nem sabia onde ficava a localidade onde ia trabalhar, apenas sabia que ao chegar ao aeroporto deveria dizer ao taxista, que me levasse para a Rodoeste, empresa de autocarros e assim foi. Já no táxi o taxista disse: É professora? Eu disse que sim. Então posso ir levá-la ao Seixal! Oh senhor acha que sou rica? Muito obrigada mas deixe-me onde lhe pedi.
Quando cheguei à Rodoeste, por volta das 11 horas, perguntei, a que horas teria transporte para o Seixal? Resposta: À hora e meia. Ok, comprei o bilhete pois faltava 1 hora e meia e pedi para deixar a mala guardada. Lá fui passear pelo Funchal e telefonar para o Delegado Escolar, cargo que existia na época, para saber se seria fácil encontrar casa.
Perto da hora indicada voltei à central de autocarros, recolhi a mala e perguntei: Já está na hora não é? O senhor disse: Já lhe disse, que é à hora e meia... Fiquei de olhos esbugalhados, sem entender nada. Uma senhora que estava a ouvir, começou a rir e disse: É continental, não é? Professora? E eu pensei... devo ter na testa escrito qual é a minha profissão... disse que sim. Ai a senhora disse: À hora e meia aqui é às 13 e 30 minutos. Ufa! Agora já entendi! Esperei... esperei e à hora e meia entrei para o autocarro. Passado uma hora e pouco, com uns 20 quilómetros percorridos e muitas voltas e voltinhas, cheguei à localidade da Ribeira Brava, qual não é o meu espanto quando o condutor diz: Agora uma paragem de 15 minutos! Pensei...Hummm isto é tipo excursão! Lá sai e fui comprar uma água, de volta ao autocarro, continuei a viagem.
Cheguei à localidade de São Vicente por volta das 17 horas, o condutor disse-me agora a senhora sai e espera por outro autocarro! Aí, outro autocarro? Já tinha dado tanta volta, aquilo parecia-me o fim do mundo! E ainda tinha que apanhar outro autocarro? Mas para onde é que vou? Meu Deus! É o desterro....
Chegou o outro autocarro e disse ao condutor que quando chegasse ao Seixal, não sabia onde ficar, que me deixasse perto de uma escola. Assim foi.
Sai do autocarro cansada e confusa, vi um quiosque que era uma drogaria e perguntei onde ficava a casa da senhora Agrela, nome indicado pelo delegado escolar. A funcionária virou-se para um miúdo que ali estava e disse: Leva a senhora professora à casa Maria Agrela! E lá fui atrás do pequeno. Andei, andei, doía-me tudo, estava cansada. Perguntei, já sem grande vontade de andar, falta muito? O rapaz nada disse, só mexia a cabeça em sinal de não mas continuei a andar por um bom bocado. Quando cheguei a senhora disse que as professoras só chegam perto do dia 15 de setembro, que a casa ainda não estava livre... mas que podia ficar na casa dela.
Eu queria lá saber de ficar na casa de quem quer que fosse.... queria era sossego e um canto para estar! Deixei a mala numa mercearia e fui à procura de casa. Procurei muito, quando encontrei, pensei que tinha sido bom, sim pensei...
Aluguei a casa a uma senhora professora reformada, esta ao fim de semana, metia-se lá a dormir, tirava-me as cordas que tinha comprado, para estender roupa, ligava o carro dentro da garagem e como o chão era de sobrado, o fumo invadia-me o quarto, o fogão tinha uma fuga de gás, a mobília do quarto era um cabide de pé em ferro, um "cátre" de ferro, com uma porta a fazer de tábua para o colchão, um quadrado em madeira forrado com papel autocolante a fazer de mesa de cabeceira e o fantástico uma cadeira de palhinha...
Como guardo a roupa? A necessidade obriga e arranjei caixas de cartão que forrei com revistas, fiz uma pirâmide e era a minha cómoda, a roupa interior ficava na mala de viagem.
Um dia estava deitada e senti uma coisa andar na minha cabeça, joguei a mão e era um bicho... uma lagartixaaaaaa, gritei tanto. Chorei muito, durante muitos dias.
Passados 15 dias disse à senhora que ia sair, que não queria viver só e que ia viver com a minha colega que já chegará.
Passados 15 dias disse à senhora que ia sair, que não queria viver só e que ia viver com a minha colega que já chegará.
Foi isso mesmo que fiz, fui viver com a minha Zéca no apartamento da Maria Agrela que já estava livre. Chorei quando vi um roupeiro e quando vi uma televisão mesmo a preto e branco.
Educadora sofre.....