sábado, 28 de março de 2015

Educadora sofre...

Andávamos pelo ano de 1996, no fim do mês de agosto, fui colocada na Ilha da Madeira, na localidade do Seixal.
Nunca tinha estado nessa ilha, nem sabia onde ficava a localidade onde ia trabalhar, apenas sabia que ao chegar ao aeroporto deveria dizer ao taxista, que me levasse para a Rodoeste, empresa de autocarros e assim foi. Já no táxi o taxista disse: É professora? Eu disse que sim. Então posso ir levá-la ao Seixal! Oh senhor acha que sou rica? Muito obrigada mas deixe-me onde lhe pedi. 
Quando cheguei à Rodoeste, por volta das 11 horas, perguntei, a que horas teria transporte para o Seixal? Resposta: À hora e meia. Ok, comprei o bilhete pois faltava 1 hora e meia e pedi para deixar a mala guardada. Lá fui passear pelo Funchal e telefonar para o Delegado Escolar, cargo que existia na época, para saber se seria fácil encontrar casa.
Perto da hora indicada voltei à central de autocarros, recolhi a mala e perguntei: Já está na hora não é? O senhor disse: Já lhe disse, que é à hora e meia... Fiquei de olhos esbugalhados, sem entender nada. Uma senhora que estava a ouvir, começou a rir e disse: É continental, não é? Professora? E eu pensei... devo ter na testa escrito qual é a minha profissão... disse que sim. Ai a senhora disse: À hora e meia aqui é às 13 e 30 minutos. Ufa! Agora já entendi! Esperei... esperei e à hora e meia entrei para o autocarro. Passado uma hora e pouco, com uns 20 quilómetros percorridos e muitas voltas e voltinhas, cheguei à localidade da Ribeira Brava, qual não é o meu espanto quando o condutor diz: Agora uma paragem de 15 minutos! Pensei...Hummm isto é tipo excursão! Lá sai e fui comprar uma água, de volta ao autocarro, continuei a viagem.
 Cheguei à localidade de São Vicente por volta das 17 horas, o condutor disse-me agora a senhora sai e espera por outro autocarro! Aí, outro autocarro? Já tinha dado tanta volta, aquilo parecia-me o fim do mundo! E ainda tinha que apanhar outro autocarro? Mas para onde é que vou? Meu Deus! É o desterro....
 Chegou o outro autocarro e disse ao condutor que quando chegasse ao Seixal, não sabia onde ficar, que me deixasse perto de uma escola. Assim foi.
 Sai do autocarro cansada e confusa, vi um quiosque que era uma drogaria e perguntei onde ficava a casa da senhora Agrela, nome indicado pelo delegado escolar. A funcionária virou-se para um miúdo que ali estava e disse: Leva a senhora professora à casa Maria Agrela! E lá fui atrás do pequeno. Andei, andei, doía-me tudo, estava cansada. Perguntei, já sem grande vontade de andar, falta muito? O rapaz nada disse, só mexia a cabeça em sinal de não mas continuei a andar por um bom bocado. Quando cheguei a senhora disse que as professoras só chegam perto do dia 15 de setembro, que a casa ainda não estava livre... mas que podia ficar na casa dela. 
Eu queria lá saber de ficar na casa de quem quer que fosse.... queria era sossego e um canto para estar! Deixei a mala numa mercearia e fui à procura de casa. Procurei muito, quando encontrei, pensei que tinha sido bom, sim pensei...
Aluguei a casa a uma senhora professora reformada, esta ao fim de semana, metia-se lá a dormir, tirava-me as cordas que tinha comprado, para estender roupa, ligava o carro dentro da garagem e como o chão era de sobrado, o fumo invadia-me o quarto, o fogão tinha uma fuga de gás, a mobília do quarto era um cabide de pé em ferro, um "cátre" de ferro, com uma porta a fazer de tábua para o colchão, um quadrado em madeira forrado com papel autocolante a fazer de mesa de cabeceira e o fantástico uma cadeira de palhinha... 
Como guardo a roupa? A necessidade obriga e arranjei caixas de cartão que forrei com revistas, fiz uma pirâmide e era a minha cómoda, a roupa interior ficava na mala de viagem.
 Um dia estava deitada e senti uma coisa andar na minha cabeça, joguei a mão e era um bicho... uma lagartixaaaaaa, gritei tanto. Chorei muito, durante muitos dias.
Passados 15 dias disse à senhora que ia sair, que não queria viver só e que ia viver com a minha colega que já chegará.  
Foi isso mesmo que fiz, fui viver com a minha Zéca no apartamento da Maria Agrela que já estava livre. Chorei quando vi um roupeiro e quando vi uma televisão mesmo a preto e branco.
Educadora sofre..... 

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