quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Toca andar a pé!

Andávamos pelo ano 1996, ano em que fiquei colocada na linda Ilha da Madeira, mais propriamente na freguesia do Seixal. Um domingo desses lembrei-me ir a São Vicente para levantar dinheiro no multibanco, pois na época não existia nenhum na localidade.
 A Susaninhas apanhou o autocarro das 14 horas e lá foi. Quando chegou, antes de descer, perguntou ao condutor: Agora para voltar é às 16 horas? Condutor: Não menina, hoje é domingo, só às 20 horas. Pensei, não faz mal dou umas voltas e passa rápido.
Passa. passa... Quando cheguei ao multibanco qual não é o meu espanto! Estava fora de serviço! Nada feito!
Então pensei: O que faço aqui tanto tempo e só com uns trocos no bolso? Hummmm, passou uma ideia pela minha rica cabecita e se assim passou mais rapidamente a coloquei em execução, vou a pé!
Não estava propriamente vestida nem calçada para esse tipo de caminhada mas teimosa como sou, quis lá saber! Comecei a andar, até que estava a correr bem... Quando comecei a subir pela zona das rochas onde a estrada se estreita e só se vislumbra rochas e mar logo ali ao lado, ui! ui! tive medo mas a teimosia é mais forte que a razão e continuei. Os condutores dos autocarros, de turistas, só faziam gestos com a mão a tocar a cabeça. Tipo você é maluca!
Pensava, maluca sim, maluca! Só queria o bilhete dessa gente, para ir para a minha casa! Que mal fiz eu na vida para andar nisto!
Andei, andei, passei o furado( nome que se dá aos túneis)olhava para as paredes, corria água por todo o lado, metia medo.  Os sapatos já magoavam, cheguei a um lugar chamado véu da noiva e sentei-me numa esplanada, bebi uma coca cola, que paguei com os trocos que tinha no bolso, contemplei a paisagem e ganhei forças para o resto da caminhada que faltava.
Quando estava a entrar na freguesia, já sentia bolhas nos pés, parou um carro.
 Um senhor dizia: Professora quer boleia? A minha resposta saiu de forma automática: Não, agora vou a pé!
E lá fui a pé até casa, sem dinheiro, cheia de bolhas nos pés mas satisfeita comigo. Não necessito de transportes, tenho pernas! Por estes lados toca andar a pé!
Noutra ocasião, tinha uma reunião em Porto Moniz, como os transportes eram escassos apanhei boleia com o condutor do  centro de saúde e lá fui. O ir não foi o problema, o problema foi voltar. Terminada a reunião, estava cheia de fome e resolvi comer, depois da barriguita cheia resolvi voltar para casa. Andei até uma ponte, à saída desta freguesia esperando apanhar boleia de regresso, punha o dedo e nada, punha o dedo e nada. Fartei-me! 
 Lá fui  a pé para casa, passei mais uns furados, meia a andar meia a correr.  "Foita, foita" mas a procissão vai por dentro. O calçado era mais prático, a paisagem mais agradável e lá fui...
 Encontrei pessoas a trabalhar no campo que me saudavam e eu correspondia com um aceno e um sorriso, levei muito tempo a chegar a casa. A minha colega já estava preocupada e esperava-me num cafezito onde costumávamos comer umas empadas típicas da Venezuela.
Quando cheguei contei-lhe tudo e como estava cheia de fome, lá caiu uma rica empada.
 Toca andar a pé! 
Susana Cameselle

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